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Índice

Terra e seu clima

Introdução

"A mudança climática certamente é o maior problema social, econômico e ambiental da humanidade. E detalhe: é para sempre! Mesmo que consigamos reduzir drasticamente as emissões de gases de efeito estufa nas próximas décadas, o que está difícil de acontecer, o estrago feito pelas emissões do passado já são suficientes para termos o clima global alterado no futuro. Podemos, contudo, com a boa vontade das nações, manter o planeta Terra habitável e próspero. Para isso será preciso pensar e agir diferente. A sociedade terá que rever o seu padrão de consumo, atualmente insustentável e baseado na elevada emissão de gases estufa. A economia precisará ter outros alicerces do que aqueles baseados no crescimento econômico, a todo custo e insaciável, o que resulta em muitas vezes na exaustão de recursos naturais, estes finitos.

E, finalmente, será preciso manter os ecossistemas íntegros e funcionais o suficiente para continuarem exercendo a regulação dos processos biológicos e climáticos que mantém o planeta vivo. Cabe a cada um de nós o trabalho para um mundo saudável e habitável.  Para podermos agir, precisamos de informações qualificadas e esse é o objetivo desse pequeno curso online.  Espero que todos vocês o aproveitem ao máximo."

Dr. Paulo Moutinho

Dr. Paulo Moutinho - Coordenador de Pesquisa, Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM)

Nossa atmosfera

Vozes do Brasil:
     "As mudanças climáticas são os sintomas de uma catástrofe que está ameaçando a vida no planeta. É o fato de que pelo uso da ciência e tecnologia a serviço do aumento da produção para aumentar o consumo de uma forma indiscrimida, está fazendo com que a temperatura do planeta se eleve em consequência, sobretudo do dioxido de carbono que sai dos carros, que sai das queimadas e que cria o chamado efeito estufa, que está provocando ligeiros mas catastróficos aumentos na temperatura média do planeta."

Senador Cristovam Buarque (*PDT - DF) e Professor de Pós-graduação da UnB

Senador Cristovam Buarque (*PDT - DF) e Professor de Pós-graduação da UnB

Apesar de a atmosfera da Terra ter 30 quilômetros de espessura, é na verdade uma camada muito fina. Em comparação, se a Terra fosse do tamanho de uma bola, a atmosfera seria mais fina que uma folha de papel.

A atmosfera terrestre vista do espaço

Composta de gases como nitrogênio, oxigênio e vapor d’água, a atmosfera mantém a vida e gera o clima da Terra. Vivemos bem nesse clima e agora o estamos modificando.

Componentes da atmosfera terrestre

Adaptar-se a essas mudanças será difícil e caro. Existe também a possibilidade de perdermos várias espécies e ecossistemas que têm contribuído com a vida humana. Por isso é muito importante que aprendamos e ajamos rapidamente, tanto individualmente quanto globalmente.

Raios de sol numa floresta tropical

Clima e tempo

São Paulo, Brasil

Clima e tempo não são a mesma coisa. Tempo é a condição da atmosfera num lugar e horário específicos. Ele consiste de temperatura, pressão do ar, umidade, nuvens, precipitações, visibilidade e vento.

Previsão do tempo para Belém, Brasil.

Mas medindo estes elementos em um local específico (Belém, por exemplo) por muitos anos e calculando suas médias ao longo prazo nos dá uma imagem do clima local.

Informação do clima para Belém baseada nas medias mensais no período de 30 anos entre 1961 e 1990

Então, as informações do tempo lhe ajudam a decidir se precisará de um guarda-chuva esta tarde, enquanto os dados de clima lhe informam se haverá chuva o bastante para cultivar certas plantações.

Pessoa andando na chuva com guarda-chuvas Soja

Entretanto, clima é mais do que apenas médias de tempo. Furacões, ondas de calor, secas, chuvas torrenciais, e outros eventos extremos também fazem parte e afetam o clima em particular, sua freqüência e intensidade. Até erupções vulcânicas podem afetar o clima por meses ou anos. Todos esses aspectos do clima estão sujeitos a mudanças com o decorrer dos anos – às vezes devagar, através de milênios – e às vezes em meses ou alguns anos.

Cientistas descobriram a maioria das causas das maiores mudanças de clima já ocorridas, inclusive deslocamento de continentes, mudanças na órbita e inclinação terrestres, o acúmulo de gelo e neve, impacto de asteróides e erupções vulcânicas. Eles também sabem como variações naturais de clima, como o El Niño e La Niña afetam o clima em curto prazo. E sabem que as mudanças relativamente recentes no clima que nós observamos não são causadas por eles.

A Terra vista do espaço

Então o que está causando essas mudanças? Para entender isso, precisamos primeiro entender um dos mais importantes aspectos do clima – algo chamado de Efeito Estufa. Discutiremos isso a seguir.

Efeito estufa

O sol emite uma forma de energia chamada de radiação, que viaja através do espaço vazio e aquece nosso planeta e sua atmosfera.

O sol e a Terra

Luz é a evidência mais visível da forma mais abundante de radiação, mas também existem outros tipos de radiação que não podemos ver. Grande parte dessa radiação atinge a Terra, aquecendo o solo e oceanos.

Radiação entrando e saindo da Terra

Parte da radiação volta ao espaço ou fica redida na atmosfera, onde é absorvida por certas moléculas gasosas. Essas moléculas então absorvem e re-emitem radiação em todas as direções, aquecendo o planeta ainda mais.

Temperatura média da superfície da Terra COM gases de efeito estufa: 14°C

Radiação e gases de efeito estufa

Os chamados “Gases de efeito estufa” são aqueles particularmente bons na absorção de radiação. Tais gases são essenciais na manutenção do clima e ecossistemas terrestres. Vapor d’água , por exemplo, é um gás de efeito estufa, assim como muitos outros, como dióxido de carbono (CO2), metano (CH4), óxido nítrico (N2O), e ozônio (O3).

O aquecimento adicional causado pelos gases de efeito estufa é comumente chamado de “efeito estufa”, mas “efeito cobertor” pode até ser mais apropriado. Apesar de apenas 1% dos gases atmosféricos serem gases de efeito estufa, eles são poderosos retentores de calor. O efeito estufa é então um fenômeno natural que faz o planeta ser próprio para a vida humana. Sem ele, a superfície do planeta seria bem mais fria e muitos dos nossos ecossistemas atuais não existiriam.

Temperatura média da superfície da Terra SEM gases de efeito estufa: -18°C

Terra sem gases de efeito estufa

Mas, queimando combustíveis fósseis e florestas, o homem está acumulando cobertores sobre a Terra, aquecendo tanto o planeta e tão rapidamente que é difícil para a natureza e para as sociedades humanas se adaptarem.

O aumento de gases de efeito estufa aumenta a temperatura da Terra.

Terra com gases de efeito estufa

Gases de efeito estufa

O maior responsável pelas mudanças no nosso clima é um gás que normalmente não é visível, não tem cheiro ou gosto, o chamado dióxido de carbono. A cada ano, o ser humano tem emitido maiores quantidades desse gás na atmosfera terrestre.

Concentrações e emissões de CO2 de 1830 a 2005

Em tempos pré-industriais, a concentração de dióxido de carbono era de aproximadamente 280 partes por milhão de moléculas atmosféricas. Em 2008, sua concentração aumentou para 385 partes por milhão – 30% a mais. Então qual é o problema com algumas centenas de partes por milhão?

Concentrações de CO2 nos últimos 800.000 anos

A concentração de carbono na atmosfera não está apenas maior do que foi por pelo menos 2,1 milhões de anos, mas o seu aumento está acelerado. Por milhares de anos, essa concentração não passou de 30 partes por milhão. Já nos últimos 17 anos, o dióxido de carbono aumentou em 30 partes por milhão.

Projeção das emissões médias da temperatura global, 2080-2099

Climate Change 2007: The Physical Science Basis. Working Group I Contribution to the Fourth Assessment Report of the Intergovernmental Panel on Climate Change. Figure 10.8, Cambridge University Press

Esse acréscimo na concentração de dióxido de carbono na atmosfera provoca grandes efeitos– se continuarmos assim poderemos ver a temperatura do planeta aumentar em 4,0°C até o final do século. Por que? Temperaturas mais altas aumentam a evaporação, e esses vapores de água adicionais também são gases de efeito estufa. Nesse caso, é um ciclo no qual os aumentos de temperatura ocasionam mudanças no sistema climático que causam ainda mais aquecimento.

Ciclo de retroalimentação positiva de aquecimento, que leva a evaporação, que leva ao aumento do vapor d’água, que leva a um maior aquecimento

No mundo todo, a queima de combustíveis fósseis representa a maior fonte de CO2, mas CO2 também pode vir do corte de árvores, queima de florestas e matas, agricultura e fabricação de cimento.

Fontes de CO2

Climate Change 2007: Mitigation of Climate Change. Working Group III Contribution to the Fourth Assessment Report of the Intergovernmental Panel on Climate Change. Figure 1.2, Cambridge University Press.

Combustíveis fósseis – como gás natural, carvão e petróleo – são queimados em grandes quantidades em usinas elétricas, automóveis, aviões, outros tipos de transportes e na indústria. A agricultura produz seu próprio grupo de emissões, como o arar do solo que libera o carbono armazenado na terra e animais de fazenda que emitem metano. É importante notar que as emissões por desmatamento, que cresceram rapidamente desde os anos 90, já se equiparam àquelas dos setores residenciais e de serviços.

O que você acha?

Como os países abaixo se classificam no total de emissões de CO2 por combustíveis fósseis e mudança no uso da terra (incluindo desmatamento tropical) no ano 2000? (Escolha a melhor resposta.)

A resposta certa é a).

De acordo com dados do Instituto de Recursos Mundiais, os EUA emitiram a maior quantidade de CO2, enquanto o Brasil ficou em quinto lugar. Ainda no topo da lista dos países mais poluidores, Brasil, diferentemente dos países desenvolvidos, tem suas emissões decorrentes de atividades do uso da terra. Enquanto o Brasil fica em 5º. lugar, os outros países da América do Sul não chegam a entrar na lista dos 20 países maiores poluidores do mundo.

Dados do World Resources Institute.

Se olharmos para as emissões de CO2 por mudança no uso da terra e floresta em 2001, o Brasil ficou com o segundo lugar mundial, depois da Indonésia. Peru, Colômbia, México, Bolívia e Equador estavam entre os 20 primeiros, nessa categoria

Emissões por desmatamento e mudanças no uso do solo em 2000

Dióxido de carbono não é o único gás de efeito estufa que liberamos no ar. Por exemplo, a atmosfera possui atualmente 1.780 partes por bilhão de metano (CH4), que é um gás de efeito estufa ainda mais poderoso que o CO2.

Concentração de metano na atmosfera nos últimos 10.000 anos

Climate Change 2007: Synthesis Report. Contribution of Working Groups I, II, and III to the Fourth Assessment Report of the Intergovernmental Panel on Climate Change. Figure 2.3, Geneva, Switzerland.

Durante os últimos 650.000 anos, essa parte nunca tinha passado de 790 por bilhão. Metano é produzido durante a extração e transporte de petróleo e gases, plantações de arroz, e no sistema digestivo de gado e outros animais de fazenda.

Também, alguns elementos químicos industriais chamados de halocarbonos – usados em produtos de limpeza, refrigerantes e na fabricação de monitores e TV’s de tela plana – retêm calor muito bem e quando liberados no ar permanecem um longo tempo na atmosfera.

O ciclo do carbono

Dióxido de Carbono (ou CO2) não fica apenas no ar. Também entra e sai da atmosfera, organismos vivos, solo, rochas e água. Por exemplo, através de longos períodos de tempo, a degradação das rochas, que é causada por uma reação química com o dióxido de carbono do ar e as pedras, pode adicionar carbono aos rios, que deságuam no oceano. Eventualmente, esse carbono é depositado no fundo do mar e forma uma rocha sedimentar. O carbono pode ser novamente liberado à atmosfera através de vulcões, quando a rocha derrete.

Componentes do ciclo do carbono

Em tempos remotos, quanto a Terra tinha um clima muito mais quente, grandes pântanos absorveram plantas antes delas se decomporem e, quando esses materiais foram expostos à pressão e calor, viraram carvão. De formas parecidas, microorganismos enterrados no fundo de lagos e mares em toda a história do planeta se transformaram em petróleo. Esses processos aprisionaram grandes quantidades de carbono em forma de carvão, gás e petróleo. Queimando estes combustíveis nos últimos 150 anos, liberamos repentinamente carbono que levou centenas de milhares de anos para se formar.

As plantas representam uma parte importante no ciclo do carbono. Elas absorvem o carbono no ar para fazer madeira, galhos e folhas. Animais, incluindo o homem, absorvem carbono quando comem plantas, e depois liberam o CO2 de volta à atmosfera na troca de gases que ocorre na respiração. Plantas também liberam CO2 de volta ao ar quando folhas caem ou quando a planta morre. Incêndios florestais liberam grandes quantidades de CO2 quando a madeira queima.

O que você acha?

Quanto das emissões de dióxido de carbono são resultantes do desmatamento de florestas tropicais? (Escolha a melhor resposta.)

A resposta certa é d) 15-20%.

Florestas tropicais representam uma importante reserva de carbono porque elas armazenam bilhões de toneladas de carbono anualmente em suas árvores (nos troncos, folhas e raízes) e também no solo.

Ameaças às florestas tropicais tais como secas, doenças, fogo ou derrubadas liberam dióxido de carbono na atmosfera e diminuem a capacidade de absorção e armazenamento. O desmatamento tropical atualmente responde por 15-20% de todas as emissões de CO2 causadas pelo homem, e milhões de hectares de floresta tropical são destruídos a cada ano. Nesse caminho, estamos rapidamente perdendo esse recurso que pode contribuir de maneira significativa no combate às mudanças climáticas.

Evidências das mudanças climáticas

Mudanças antrópicas

Vozes do Brasil:
     "A floresta tem que ser reconhecida pela política, que ela tem papel importante em contribuir em manter equilíbrio. Não só equilibrio de clima, mas também que ele pode apoiar e criar o novo modelo de gestão do planeta."

Almir Surui, Liderança Indígena do Grupo Suruí

Almir Surui, Liderança Indígena do Grupo Suruí

Mas o aquecimento não poderia ser um fenômeno natural? – talvez provocado por uma mudança na atividade solar?

A Terra e o sol

Cientistas têm procurado por explicações com base nas causas naturais de mudanças climáticas no passado da Terra mas nenhuma delas explica o que estamos vendo hoje.

Reconstrução das temperaturas do hemisfério norte.

Reconstrução das temperaturas do hemisfério norte

Cientistas também estudaram quais têm sido as variações normais de temperatura nos últimos milhares de anos e, de fato, as temperaturas que estamos vendo agora estão fora do “normal” em relação às estudadas.

Modelo da temperatura de CO2 estima com (azul) e sem (rosa) influências climáticas antropogênicas comparadas com observações (linha preta).

Modelo da temperatura de CO2 estima com (azul) e sem (rosa) influências climáticas antropogênicas comparadas com observações (linha preta).

Climate Change 2007: Synthesis Report. Contribution of Working Groups I, II, and III to the Fourth Assessment Report of the Intergovernmental Panel on Climate Change. Figure 2.5, Geneva, Switzerland.

Estudos e modelos feitos no computador ajudam a confirmar as causas como sendo humanas. Cientistas usam os modelos para simular as condições climáticas nos últimos 100 anos. Colocando e tirando os maiores fatores que mudam o clima, pode-se ver como cada fator afeta a temperatura global. Assim, é possível comparar as estimativas do modelo com os dados de temperatura observados através dos anos.

Quando apenas fatores naturais são colocados nos modelos, os resultados indicam que aspectos como condições solares e vulcânicas provavelmente teriam esfriado a Terra nos últimos 50 anos.

Mas quando cientistas adicionam os gases de efeito estufa e partículas de atividades humanas, os resultados dos modelos correspondem bem ao aquecimento que temos visto no último século.

Temperaturas

A Terra está ficando mais quente segundo todos os meios que temos de medir essa mudança. A temperatura tem estado bem acima do normal por mais de 25 anos.

Temperaturas médias globais (1880-2008) sobre solo e oceano, só oceano e só solo

Apesar de aumentos de 0,6-0,9°C durante o século passado não soarem ameaçadores, lembre-se que essa é a média global, então alguns lugares aqueceram mais. Pense em quando você teve febre. Mesmo 1°C a mais fez uma grande diferença em como você se sentia. Do mesmo jeito, nosso planeta está se tornando febril.

Nas Américas do Sul e Central, estudos revelam padrões de mudanças em situações extremas consistentes com o aquecimento geral, em particular, mais noites quentes e menos noites frias. Nas décadas passadas, as temperaturas tiveram um aumento maior nas latitudes ao norte, mas também tiveram aumento no hemisfério sul. As temperaturas médias subiram 0,5°C no Brasil e aproximadamente 1°C na América Central e na América do Sul.

Média anual global de temperaturas observadas (1979-2005).
Todo o Brasil tem vivenciado aquecimento tanto na superfície quanto na troposfera.

Média anual global de temperaturas observadas (1979-2005). Todo o Brasil tem vivenciado aquecimento tanto na superfície quanto na troposfera.

Climate Change 2007: The Physical Science Basis. Working Group I Contribution to the Fourth Assessment Report of the Intergovernmental Panel on Climate Change. FAQ 3.1, Figure 1, Cambridge University Press

A Amazônia por si só aqueceu aproximadamente 0,25°C por década, um índice relativamente rápido comparado às mudanças climáticas anteriores. Quando nosso planeta saiu de sua última era glacial, aproximadamente em 9.700 AC, a Amazônia aqueceu muito mais devagar - apenas 0,1°C por século.

Vista aérea da Amazônia

O que você acha?

Olhando o gráfico, o que você conclui a respeito do pico de temperaturas em 1997? (Selecione todas as respostas que se aplicam.)

Jan.-Dez. Anomalias na média global de temperatura sobre solo e oceano (1880-2008)

As respostas certas são b) e e).

Parte do motivo de 1997 ter sido um ano tão quente foi a intensidade do El Niño naquele ano, portanto uma das causas das altas temperaturas foi natural, além do aquecimento devido aos gases de efeito estufa. El Niños são mudanças periódicas nos ventos e correntes oceânicas no oceano Pacífico tropical que têm consequências importantes para o tempo ao redor da Terra.

A seca devastadora na Amazônia em 2005 também foi resultado do El Niño? Apesar das temperaturas daquele ano também terem sido altas, cientistas chegaram à conclusão de que as secas na Amazônia foram devidas as temperaturas excepcionalmente altas no Atlântico norte tropical, e não ao El Niño.

Mapas da seca na Amazônia (2005)

Oceanos

Barcos e bóias que pontuam o globo nos mostram que os oceanos também estão aquecendo. Os primeiros 300 metros de profundidade aqueceram 0,3°C nos últimos 50 anos. Águas profundas também aqueceram. Um estudo da Administração Nacional de Oceano e Atmosfera dos Estados Unidos que observou o período de 1948 a 1998 descobriu que todos os oceanos tinham aquecimento pelo menos nos primeiros 1.000 metros de profundidade.

E assim como o ar e os oceanos aqueceram, o nível dos mares subiu. A média global do nível dos mares desde 1993 subiu aproximadamente 3,3 milímetros por ano. No total, o IPCC estima que os oceanos subiram entre 10-25 centímetros no século 20, em decorrência do derretimento de gelo e neve.

Gráfico do aumento do nível do mar (1993-2008)

Nos últimos 10-20 anos, o nível dos mares no sudeste da América do Sul subiu de 1 mm/ano para 2-3 mm/ano, e vários portos do Brasil registraram aumentos de 4 mm/ano. É esperado que esse inchaço dos mares continue, o que sem dúvida irá ameaçar comunidades costeiras.

Praia de Copacabana, Rio de Janeiro

A composição química da água do mar está mudando também, conforme o mar absorve mais CO2 do ar. Isso dificulta a formação de conchas, corais e plâncton. Se populações desses organismos diminuem, o peixe que as comem e as milhares de pessoas que sobrevivem de pesca sofrem também.

Pescadores no Brasil

Neve e Gelo

Neve e gelo refletem a energia do sol de volta ao espaço. Sem essa cobertura branca, mais água evapora e vai para a atmosfera, funcionando como um gás de efeito estufa, e o solo absorve mais calor. Neve e gelo estão derretendo numa velocidade nunca vista em milhares de anos, e isso tem consequências profundas no clima. Assim como a temperatura do ar, a maior parte do derretimento de neve em aproximadamente 100 anos de registro oficial aconteceu depois de 1980.

Foto de montanha e oceano na Antártica

Na América do Sul, geleiras estão derretendo rapidamente, ameaçando os recursos hídricos e elétricos de sul americanos na Bolívia, Peru, Colômbia, Chile e Equador. O derretimento atingiu “condições críticas” nesses países, de acordo com o IPCC, o corpo científico intergovernamental das Nações Unidas, estabelecido para estudar mudanças climáticas, Peru teve uma redução de 22% em área de geleira, enquanto a Colômbia teve uma redução de 82%.

Entre 1940 e 2005, a geleira Chacaltaya na Bolívia foi de 0,22 quilômetros quadrados para menos de 0,01 quilômetros quadrados, destruindo a indústria de esqui do país. Um problema ainda maior é que essa geleira fornece parte da água para proximidades de La Paz, principalmente durante a temporada de seca, no inverno. Nessas imagens, as linhas indicam a posição de um antigo elevador de esqui.

Derretimento da geleira de Chacaltaya em 65 anos

Climate Change 2007: Impacts, Adaption, and Vulnerability. Working Group II Contribution to the Fourth Assessment Report of the Intergovernmental. Panel on Climate Change. Figure 1.1, Cambridge University Press.

O gelo marítimo também está se desfazendo, especialmente no hemisfério norte. Satélites demonstram que a média de gelo do oceano ártico diminuiu em 2,7% por década de 1978 a 2006, com um maior derretimento no verão.

Gráfico da extensão do gelo marítimo do Ártico (média 1979-2000; 2007; 2008)

No verão de 2007, os Canais da Passagem Noroeste, ao norte do Canadá, se tornaram navegáveis pela primeira vez, enquanto a calota polar derreteu ao seu nível mais baixo registrado—30 anos mais rápido do que os cientistas do IPCC haviam previsto. O derretimento em 2008 foi menor apenas em relação a 2007.

Imagem de satélite dos Canais da Passagem Noroeste em 2007

No hemisfério sul, gelo marítimo próximo a península atlântica também diminuiu significantemente devido ao aquecimento da área em 3˚C nos últimos 50 anos.

Anomalias na extensão da camada de gelo no hemisfério sul, junio de 2009

Entretanto, o gelo marítimo na Antártica, como um todo, cresceu em 0,97%, ou aproximadamente 100.000 km2 por década desde o final dos anos 70. Estudos recentes indicam que esse aumento pode ter sido causado por nevascas sobre o gelo marítimo Antártico. Cientistas acham que isso pode ser relacionado ao aquecimento global, que ocasiona mais evaporação, fornecendo mais umidade atmosférica para precipitação sobre oceanos do sul. Isso também pode ser relacionado a mais ventos e tempestades induzidos pelo buraco de ozônio sobre a Antártica, e cientistas afirmam que enquanto o buraco diminui e os gases de efeito estufa aumentam, o gelo marítimo Antártico vai, eventualmente, derreter mais rápido do que se forma.

Chuva, seca, eventos climáticos extremos

Uma atmosfera em aquecimento também muda o caminho das tempestades, modificando a incidência de chuva, seca e outros padrões de tempo. Por exemplo, um estudo de 2004 realizado pelo Centro Nacional de Pesquisas Atmosféricas, nos Estados Unidos, descobriu que a porcentagem do planeta sofrendo com secas severas havia mais que dobrado desde os anos 70.

Gráfico demonstrando o índice Palmer de severidade de seca, 1900-2002

From Climate Change 2007: The Physical Science Basis. Working Group I Contribution to the Fourth Assessment Report of the Intergovernmental Panel on Climate Change. FAQ 3.2, Figure 1, Cambridge University Press.

Enquanto observações são limitadas a grande parte da América Central e da América do Sul, os dados indicam que precipitações têm aumentado na parte sul do continente (com exceção da costa oeste).

Tendência na precipitação anual: 1979 a 2005

Climate Change 2007: The Physical Science Basis. Working Group I Contribution to the Fourth Assessment Report of the Intergovernmental. Panel on Climate Change. Figure 3.13, Cambridge University Press.

Entretanto, condições mais secas têm ocorrido no leste do Brasil e partes da Colômbia, Equador e Venezuela. Durante o século, a Amazônia sofreu uma pequena diminuição de chuvas, principalmente ao norte. Isso é uma má notícia para a saúde das florestas.

O que você acha?

O aquecimento global contribuiu para a seca de 2005? (Escolha a melhor resposta.)

A melhor resposta é "Talvez."

Normalmente não é possível atribuir a culpa a um único evento climático. Mudanças climáticas são mais facilmente detectadas através de longos períodos, usando muitas informações. Entretanto, podemos dizer que o tempo hoje está acontecendo em decorrência de um mundo em aquecimento e o aumento de secas é consistente com o que deve ser esperado disso.

Pesquisadores descobriram que a seca de 2005 estressou a floresta amazônica, matou árvores e liberou muito carbono na atmosfera como resultado. Em períodos normais, a Amazônia absorve aproximadamente 2 bilhões de toneladas de dióxido de carbono, mas em 2005, a floresta perdeu mais de 3 bilhões de toneladas, liberando 5 bilhões de toneladas extras de carbono na atmosfera - mais do que a União Européia emite anualmente juntando todas as fontes.

Árvores mortas na floresta amazônica

Um experimento na floresta nacional de Tapajós, no Pará, confirmou esses resultados. Lá, cientistas cobriram uma parte da floresta com painéis de plástico por 3 anos para simular uma situação de seca extrema e avaliar a resposta da floresta às mudanças climáticas e descobriram que o solo até 11 metros de profundidade secou. Isso também matou muitas árvores de grande porte, expondo o centro da floresta a mais calor e seca, e diminuindo a produção de madeira em uma tonelada por hectare / ano. Esses verdadeiros buracos na floresta incentivam o crescimento de plantas que preferem mais luz.

dry forest

Junto com a seca, isso aumenta o risco de queimadas, que liberam carbono na atmosfera, abrem mais ainda a floresta reduzindo a incidência de chuvas nas proximidades.

Fogo na floresta amazônica

Em alguns lugares, a floresta vira savana com plantas que absorvem menos carbono e são mais vulneráveis ao fogo. Se tais condições se tornarem mais frequentes devido a mudanças climáticas na bacia amazônica, árvores de florestas tropicais irão produzir menos madeira a partir no dióxido de carbono, piorando muito o aquecimento global.

Paradoxalmente, mais vapor de água na atmosfera aquecida também leva a chuvas mais pesadas e mais neve. Particularmente, a incidência de chuvas pesadas está aumentando em zonas temperadas.

Chuva torrencial no mercado de Marília, Brasil

A incidência de chuvas pesadas aumentou significantemente no leste da América do Sul entre 1900 e 2005, principalmente no sul do Brasil, no Paraguai, Uruguai, Pampas argentinos, e partes da Bolívia. Esses aumentos prejudicam plantações e causam inundações. Por exemplo, houve um aumento de 10% na frequência de inundações do Rio Amazonas na região de Óbidos e aumentos de até 50% em fluxo de corrente nos rios Uruguai, Paraná, e Paraguai. Cientistas também têm registrado mais mortes e doenças em decorrência das inundações, deslizamento de terra e tempestades na Bolívia.

Tendência de contribuição dos dias mais úmidos a precipitação anual total (1951 a 2003)

From Climate Change 2007: The Physical Science Basis. Working Group I Contribution to the Fourth Assessment Report of the Intergovernmental Panel on Climate Change. Figure 3.39, Cambridge University Press.

Além disso, a América do Sul tem visto atividades meteorológicas altamente incomuns em anos recentes — secas na Amazônia, tempestades de granizo na Bolívia e na Argentina, e o furacão sem precedentes, como o Catarina, no Atlântico sul em 2004. Houve também mais incêndios florestais e El Ninos mais duradores. Cientistas calculam que desastres relacionados ao clima dobraram nas últimas décadas.

Furacão Catarina, furacão extremamente raro que se formou na costa brasileira em 2004

Ecologia

Cerejeiras Foto de uma borboleta Foto de um pato

Aumento de calor também afeta os seres vivos. A distribuição geográfica e época de reprodução e migração, desabrochar das flores a colheita de frutos estão mudando em vários animais e plantas ao redor do mundo. No hemisfério norte, plantas e animais estão tendo fases de crescimento mais longas. Os japoneses, por exemplo, mantém um registro muito detalhado do desabrochar das flores das cerejeiras de Tóquio, e notam que as flores estão desabrochando, em média, 5 dias antes do que há 50 anos.

Em áreas da América do Sul onde há maior incidência de chuvas, colheitas de soja cresceram em 38%, as de milho 18%, trigo 13% e girassóis 12%.

Grãos para venda no mercado em Curitiba, Brasil

Enquanto a produtividade de pasto cresceu em 7% na Argentina. De outro lado, doenças de plantas também aumentaram e produção de gado diminuiu.

Gado

Por exemplo, pesquisadores descobriram que um fungo que afeta o crescimento de trigo no Brasil aumenta durante os El Niños, quando a incidência de chuvas é maior e o ar tem mais vapor.

Um bago de trigo saudável (esquerda) próximo a um exibindo sintomas severos de fusariose (direita)

Projeções para o futuro

Uma olhada rápida

Vozes do Brasil:
     "Sem as populações, sem os povos da floresta, sem as populações tradicionais, sem os quilombolas, sem os ribeirinhos, sem os Pescadores, sem as quebradeiras de coco, sem os povos indígenas, não existirá floresta. As florestas só existem porque estas populações as protegeram. Onde não tinha população, as florestas foram embora. Nossas populações precisam da floresta para seu transporte, para sua moradia, para sua saúde, e até para musica. A floresta é muito para nós. Nos não conseguiríamos viver sem floresta."

Rubens Gomes, Grupo de Trabalho Amazônico (GTA)

Rubens Gomes, Grupo de Trabalho Amazônico (GTA)

Então o que os cientistas acreditam que acontecerá no futuro? Espera-se que as médias globais de temperatura aumentem em aproximadamente 1-7°C até o final do século. Na América do Sul, a Amazônia provavelmente sofrerá o maior aquecimento.

Projeção das emissões médias da temperatura global, 2080-2099

Climate Change 2007: The Physical Science Basis. Working Group I Contribution to the Fourth Assessment Report of the Intergovernmental Panel on Climate Change. Figure 10.8, Cambridge University Press

Como resultado desse aquecimento e baixa umidade, geleiras intertropicais provavelmente desaparecerão nos próximos 15 anos. Isso afetará severamente os recursos hídricos da região.

Um planeta mais quente aumentará a evaporação e mudará a circulação da umidade atmosférica, portanto muitas áreas secas ficarão mais secas e áreas úmidas ficarão mais úmidas. O nordeste do Brasil, por exemplo, provavelmente secará e sofrerá uma mudança de semi-árido para árido ou desértico. Como resultado, é prevista uma diminuição da reposição dos lençóis freáticos em mais de 70%.

Projeções de mudanças relativas de escoamento superficial até o final do século 21.

Projeções de mudanças relativas de escoamento superficial até o final do século 21

Climate Change 2007: Synthesis Report. Contribution of Working Groups I, II, and III to the Fourth Assessment Report of the Intergovernmental Panel on Climate Change. Figure 3.5, Geneva, Switzerland.

O aumento da temperatura em 2°C e a diminuição da água do solo levaria à substituição de florestas tropicais por savanas no leste da Amazônia e em partes do México, de acordo com o IPCC, o corpo científico intergovernamental das Nações Unidas estabelecido para estudar mudanças climáticas.

O cerrado no Brasil

O nível dos oceanos continuará subindo no próximo século. As estimativas do IPCC vão de alguns centímetros a aproximadamente meio metro até 2100. Em áreas planas e de baixa altitude, isso poderia inundar terras relativamente longe das costas atuais.

Água de derretimento na camada de gelo da Groelândia

Entretanto, as projeções do IPCC a respeito do aumento do nível do mar são apenas estimativas. A perda completa de tanto a camada de gelo da Antártica leste quanto da Groelândia poderia eventualmente elevar o nível do mar em até 6 metros.

Para ver quais são as projeções dos cientistas em consequência das mudanças climáticas em partes específicas da América do Sul, clique nos círculos coloridos nesse mapa. Exploraremos muitos desses tópicos em detalhes, na próxima sessão.

Mapa regional dos impactos das mudanças climáticas na América

Climate Change 2007: Impacts, Adaption, and Vulnerability. Working Group II Contribution to the Fourth Assessment Report of the Intergovernmental. Panel on Climate Change. Figure 13.5, Cambridge University Press.

Aquecimento

Então, se essas previsões estiverem certas, que mudanças provavelmente ocorrerão na América do Sul? Sempre existiu uma variação natural do clima, com alguns lugares e alguns anos mais quentes ou mais frios que as médias. Em geral, entretanto, verões ficarão mais quentes, não só com temperaturas mais altas, mas também porque a umidade do ar será maior. Uma tendência mais quente somada à variação natural significa que as temperaturas alcançarão os atuais recordes alarmantes com mais frequência.

Projeção no número de ondas de calor (IPCC)

Climate Change 2007: The Physical Science Basis. Working Group I Contribution to the Fourth Assessment Report of the Intergovernmental Panel on Climate Change. Figure 10.19 (b), Cambridge University Press.

Por exemplo, a onda de calor européia de 2003, que matou 35.000 pessoas, foi uma combinação de aquecimento global e variação extrema de temperatura e não teria acontecido sem um dos dois fatores. Modelos prevêem que, em muitos lugares, eventos extremos de calor que vemos uma vez a cada 20 anos, acontecerão a cada 3 anos até o meio desse século, com frequência ainda maior no final do século XXI.

Anomalias de temperatura durante a onda de calor européia de 2003

Anomalias de temperatura durante a onda de calor européia de 2003

Oceanos

Assim como o nível dos mares aumenta, erosões costeiras acontecem numa velocidade 100 vezes maior do que o índice de aumento do nível do mar, então alguns centímetros de aumento do nível do mar podem afetar severamente as costas.

Erosão em penhasco à beira mar

Considerando que quase metade da população mundial vive em áreas costeiras de baixa altitude, o crescimento contínuo da população costeira aumenta sua vulnerabilidade ao aumento do nível do mar, tempestades e inundações. Pessoas que vivem em pequenas ilhas com altitude próxima ao nível do mar são particularmente vulneráveis, tendo em vista que suas reservas de água, casas, recifes de corais, áreas de pesca e plantações estão ameaçadas.

Se ambas as camadas de gelo da Antártica e Groelândia derretessem completamente, o nível do mar poderia subir em até 80 metros, o que inundaria a área da América do Sul vista aqui.

Linha costeira da América do Sul se o mar subir 80 metros.

Inundação na América do Sul em vários níveis de aumento do nível do mar.

Se, por outro lado, o nível do mar subisse apenas 6 metros, essa é a inundação que eventualmente aconteceria.

Inundação na América do Sul em vários níveis de aumento do nível do mar.

À medida que o nível do mar sobe, quase todas as linhas costeiras parecem suscetíveis a frequentes inundações, particularmente as cidades que não são ricas o suficiente para construir diques ou se adaptar de outras formas. A invasão da água salgada pode danificar fontes de água doce que fornecem água potável. Na América Latina, El Salvador, Guiana e a província de Buenos Aires estariam em maior risco de inundação e conseqüente erosão, enquanto a água potável do Equador, Costa Rica e do estuário do Rio da Prata estariam em risco de serem contaminados com água salgada. Mudanças costeiras também atrapalhariam o acesso à áreas de pesca e colocariam em risco a vegetação costeira, manguezais, peixes e outras espécies do litoral.

Por causa da combinação de crescimento populacional, diminuição de gelo, precipitação e invasão de água salgada, o IPCC prevê que de 7 a 77 milhões de pessoas na América Latina sofrerão com reservas impróprias de água até a década de 2020, aumentando de 60 para 150 milhões até a segunda metade do século.

Um rio quase seco na Argentina

Ecossistemas oceânicos

À medida que os oceanos absorvem mais dióxido de carbono, a química da água do mar muda. Isso significa que muitos daqueles no fundo da cadeia alimentar oceânica terão dificuldade em formar suas conchas. Quase todas as criaturas marinhas, de plânctons a baleias seriam direta ou indiretamente afetadas. Se a cadeia alimentar oceânica se desestruturar, muitas pessoas no mundo, que dependem da pesca para se alimentar, passarão fome e frutos do mar se tornarão uma especiaria a qual só os ricos terão acesso.

Homem vendendo peixe em Iquitos, Peru

Águas oceânicas mais quentes podem também causar um “branqueamento” nos recifes de corais, quando os corais perdem as algas que os nutrem e morrem. De acordo com o Quarto Relatório de Avaliação do IPCC, isso is provável que aconteça se a superfície do mar esquentar de 1 a 3 graus no próximo século, o que já é esperado. Os corais também terão mais dificuldade em formar seus esqueletos numa química oceânica com mais dióxido de carbono, e sofrerão mais quebras, caso as tempestades tropicais se intensifiquem como é previsto por cientistas.

Ecossistemas terrestres

Plantas e animais também correm perigo. De acordo com o Quarto Relatório de Avaliação do IPCC, de 2007, muitos ecossistemas terrestres ao redor do mundo provavelmente diminuirão e suas habilidades naturais de adaptação às mudanças climáticas serão forçadas ao extremo. Isso provavelmente colocará 20-30% das plantas e animais em sério risco de extinção nesse século. O IPCC também acredita que a extinção de espécies significantes poderá acontecer na América Latina.

O fruto de uma planta na floresta amazônica

Por exemplo, muitas espécies de árvores do cerrado brasileiro podem ser extintas até 2050 se houver um aquecimento de 2°C. Um estudo realizado em 2004, pela Universidade de Leeds, na Inglaterra, indica que 43% de 69 espécies de árvores na Amazônia podem ser extintas até o final do século.

Florestas tropicais de altitude seriam ameaçadas por um aumento de 1-2°C na temperatura nos próximos 50 anos, pelo aumento da nebulosidade. Algumas plantas se tornariam extintas localmente, pois suas montanhas não são mais altas o suficiente para dar suporte ao habitat que precisam.

Na floresta de altitude de Monteverde, na Costa Rica, plantas e animais já estão sofrendo. Menos dias úmidos resultarão no decréscimo das populações de anfíbios e provavelmente de aves e répteis também.

Floresta nublada de Monteverde, Costa Rica

Aves migratórias também passarão por uma perda de habitat e diminuição de populações. Em 2005, um estudo sobre 300 espécies de aves migratórias descobriu que 84% delas estão ameaçadas pelas mudanças climáticas, principalmente devido a pouca água ou secas, que diminuem as áreas de reprodução e lugares de descanso ao longo de rotas migratórias.

Uma ave migratória

Incêndios florestais também devem se tornar mais frequentes na maior parte da América do Sul; estudos projetam um aumento de 60% de fogos com um aumento de pelo menos 3°C na temperatura, o que traz uma enorme ameaça a organismos vivos.

Imagem de satélite mostrando fumaça de incêndios em 2007 (em vermelho) no Mato Grosso, Brasil

Saúde

Na área da saúde as notícias também não são boas: as pessoas já estão sofrendo por causas relacionadas ao clima e muitas morrerão ou adoecerão conforme o planeta esquenta.

Taxas de mortalidades aumentam uma média de 6% durante ondas de calor, portanto mortes induzidas pelo calor ter um acréscimo conforme as temperaturas aumentam e as ondas de calor se tornam mais longas e intensas. Idosos, crianças e pessoas já fragilizadas por alguma doença tendem a ser as mais vulneráveis.

Conforme as temperaturas aumentam, mosquitos, roedores e outros transmissores de doenças aumentam seu alcance e adoecem mais pessoas, principalmente em países em desenvolvimento. Na América do Sul, a malária, dengue e doenças relacionadas à água são ainda mais preocupantes. O clima em mudança e florestas destruídas podem resultar em novas doenças afetando a população humana.

Distribuição da dengue no mundo

Na Bolívia, um estudo prevê um aumento na transmissão de malária e leishmaniose, o que coloca em maior risco as populações locais. Estudos também prevêem um aumento na incidência de dengue no Brasil, México, Peru e Equador. Por outro lado, algumas áreas da América Central e ao redor da Amazônia devem ter menos casos de malária, devido à redução das chuvas.

Distribuição de malária no mundo

A poluição do ar deve também piorar, tendo em vista que temperaturas mais altas e maior umidade contribuem para acréscimo do ozônio e fazem com que partículas de poluição se formem e durem mais. A poluição, por sua vez, causa mais doenças como asma e mortes por doenças de coração e pulmões.

Chaminés expelindo nuvens de fuligem

Além disso, já que as mudanças climáticas aumentam a incidência de incêndios florestais, a fumaça resultante deles pode causar ainda mais problemas respiratórios.

Economia

As pessoas não verão apenas os efeitos das mudanças climáticas, mas também sentirão os impactos no bolso. Por que?

Uma caixa de correio em São Paulo, Brasil

Mais secas, temperaturas mais altas e eventos climáticos mais extremos necessitarão de mudanças no estilo de vida que vão desde quais plantas cultivar até como aproveitar as férias com a família. As mudanças climáticas aumentam o número de condições para as quais nós devemos nos preparar, e essa preparação tem um preço.

Gráficos demonstrando como um clima mais quente afeta extremos em temperatura e precipitação

Por exemplo, 50% das terras usadas para agricultura na América Latina provavelmente serão afetadas por desertificação ou salinização até a década de 2050. Criadores de gado e beneficiadores do leite e seus derivados também verão uma menor produtividade com o aumento da temperatura. Com mais calor, inundações, secas e diminuição de recursos hídricos , fazendeiros enfrentarão novas dificuldades o que pode resultar na redução e até falência de algumas produções.

Fazenda em Mato Grosso, Brasil

Se não agirmos pra lidar com esta questão, estima-se que teremos um custo no futuro que corresponderá a algo em torno de 5% e 20% do produto interno bruto (PIB) global a cada ano futuro. Por outro lado, custos relacionados a esforços para a redução das emissões de gases de efeito estufa devem ficar em torno de 1% do PIB global, por ano. É imprescindível, porém, que investimentos num futuro mais sustentável aconteçam nos próximos 10 ou 20 anos para que a humanidade não sofra ainda mais as conseqüências de ordem econômica, social e ecológica causadas pelo aquecimento global.

Brasil, a Amazônia e as mudanças climáticas

Emissões brasileiras de CO2

Vozes do Brasil:
     "O REDD não pode ser um mecanismo de remuneração de estoque de carbono em floresta para sempre, ele precisa ser um mecanismo, como se fosse a chave que dá a partida no carro, de forma que você crie um incentivo, mostrando para a sociedade que ela tem lógica de gerar renda, condições de gerar crescimento econômico numa outra lógica, ao mesmo tempo em que você vai mudando essa lógica de desenvolvimento e crescimento econômico. Portanto a gente precisa muito investimento e intensificação de agricultura, muito investimento em pecuária e muito investimento no uso sustentável dos recursos florestais. Enquanto você vai recebendo por ter tomado a decisão de não mais derrubar floresta."

Dr. Paulo Moutinho Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia

Paulo Moutinho, Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia

Existe algo incomum sobre a origem das emissões brasileiras de dióxido de carbono. Elas são muito diferentes das emissões dos Estados Unidos, Europa, China, Índia e a maior parte do mundo. Por um lado, isso acontece porque o Brasil está anos a frente desses países. Por outro lado, é porque o Brasil tem mais trabalho a fazer.

Represa hidroelétrica

Brasil está à frente graças à matriz energética limpa e a preparação. A crise do petróleo durante a década de 1970 fez com que o governo Brasileiro criasse o maior programa do mundo de geração de energia a partir da cana de açúcar. Assim, o etanol recebeu as a atenção como bicombustível de extrema utilidade. Mas o Brasil fez muito mais. Também iniciou programas de eficiência energética e incentivou a geração de energia a partir de hidrelétricas e usinas eólicas.

Emissões de gases de efeito estufa por setores

No total, a energia renovável geral mais de 45% da energia do Brasil – uma quantidade incrivelmente grande em relação a padrões mundiais.

Em contraste, nos EUA, 93% das emissões de gases de efeito estufa no ano 2000 vieram da geração de energia por queima de combustíveis fósseis, enquanto na União Européia foram 82%. No Brasil, apenas 14% das emissões de gases de efeito estufa vêm da geração de energia e apenas 5.4% vêm de carros, caminhões, ônibus e aviões, comparados a 26% nos Estados Unidos. Esse é um dos benefícios dos programas brasileiros de energia renovável.

Emissões de gases de efeito estufa por setores

Mas olhando para outro setor – o de mudança no uso da terra e desmatamento, o Canadá, que fornece madeira e papel para a maior parte da América do Norte, foi responsável por menos de 1% do total de emissões globais por desmatamento e mudança do uso da terra em 2000. Os EUA, o segundo maior emissor de gases de efeito estufa no mundo, armazenou mais carbono nas florestas, árvores urbanas em outras práticas do uso da terra do que qualquer outro país, compensando, no ano 2000, 6.3% das emissões do mundo. O Brasil, por outro lado, está muito atrasado em relação a outros países no controle de emissões por desmatamento.

Emissões por desmatamento e mudanças no uso do solo em 2000

Quando se observa os países com as maiores emissões de gases de efeito estufa por corte, queimadas e conversão de florestas em pastos ou plantações, somente a Indonésia supera o Brasil.

Emissões por desmatamento e mudanças no uso do solo

No total, desmatamento, mudança no uso da terra e agricultura são responsáveis por mais de 3/4 das emissões brasileiras de gases de efeito estufa.

Emissões de gases de efeito estufa por setores no Brasil

O que você acha?

Agricultura é outra grande fonte de emissões de gases de efeito estufa, principalmente em países como o Brasil. Em todo o mundo, qual atividade agropecuária você acha que mais produz gases de efeito estufa? (Escolha a melhor resposta.)

A resposta certa é d).

Animais de criação como gado, ovelhas e cabras produzem muito metano, que é um gás de efeito estufa mais poderoso do que o dióxido de carbono, o CO2 (seu potencial de aquecimento é 21 vezes superior ao do CO2). Anualmente, criações de animais produzem aproximadamente 1/3 de todas as emissões provenientes de atividades agropecuárias.

Florestas tropicais e CO2

Juntas, as florestas tropicais do mundo absorvem aproximadamente 1,8 bilhões de toneladas métricas de carbono por ano, armazenando aproximadamente 1/4 das emissões mundiais de gases de efeito estufa em suas madeiras e solos.

Mapa das florestas tropicais no mundo (verde escuro)

Mapa das florestas tropicais no mundo (verde escuro)

Cientistas estimam que a quantidade de carbono retida nas árvores da Amazônia equivalem a 9-14 anos das emissões atuais de carbono globais induzidas pelo homem anualmente. Árvores absorvem o carbono do ar na forma de gás carbônico através do processo de fotossíntese, ou seja, usando a energia do sol. O carbon absorvido vai sendo incorporado pelas árvores nas suas folhas, galhos, troncos e raízes. Parte desse carbono também vai para o solo. Quando uma árvore morre e se decompõe naturalmente, fungos e bactérias agem na madeira podre e a quebram lentamente para se alimentarem, liberando dióxido de carbono. A maior parte da madeira, galhos e folhas numa floresta derrubada irão se decompor em 10 anos. Se houver o reflorestamento da área, essas árvores levarão mais de 100 anos pra incorporar uma quantidade de carbono similar a que tinham.

Tronco

A quantidade de carbono armazenada na Amazônia é enorme. Por unidade de área, as florestas retêm de 20 a 50 vezes mais carbono em sua madeira, folhas e solo do que áreas de clareira. E árvores nos trópicos armazenam aproximadamente 50% mais carbono por hectare do que as florestas do norte. Isso significa que cortar árvores tropicais libera muito mais carbono do que cortar árvores em qualquer outro lugar.

Árvores tropicais em Manaus, Brasil

Mas sob algumas condições naturais – principalmente secas ou altas temperaturas, florestas tropicais podem se tornar emissores de carbono. Um estudo com árvores em mais de cem pontos diferentes da Amazônia durante a seca de 2005, descobriu que nesse período muitas árvores tiveram crescimento mais lento ou morreram. Consequentemente, no ano de 2005 a Amazônia se tornou uma fonte de CO2, ao invés de absorvê-lo.

Floresta tropical sofrendo com seca

Estudos sugerem que condições climáticas que promovem secas na Amazônia, como o El Niño, por exemplo, podem ocorrer com maior frequência no futuro. Isso torna a conservação da floresta agora ainda mais crucial para a saúde do planeta, já que pode levar anos para que o homem reduza significantemente sua dependência de combustíveis fósseis.

Projeção no número de dias secos (IPCC)

Climate Change 2007: The Physical Science Basis. Working Group I Contribution to the Fourth Assessment Report of the Intergovernmental. Panel on Climate Change. Figure 10.18 (d), Cambridge University Press.

Queimadas naturais também liberam muitos gases de efeito estufa, principalmente em anos de El Niño, mais propícios a secas. No El Niño de 1997-1998, incêndios liberaram 2,1 bilhões de toneladas de carbono – aproximadamente 1/4 das emissões globais causadas pelo homem em um ano. Com as mudanças climáticas associadas aos eventos de El Niño, há diminuição do volume de chuvas e, consequentemente, maior é a probabilidade de ocorrência de incêndios florestais. Uma vez que a floresta pega fogo, aumenta sua vulnerabilidade a incidência de novos incêndios. O fogo também podem ficar fora de controle e queimar cercas, pastos ou plantações. Estudos estimam estimam que fogos na Amazônia custam uma média de 0,2% do Produto Interno Bruto da região anualmente, mas o número real pode chegar a 10%.

Floresta tropical em chamas

Desmatamento

O que você acha?

Qual país perdeu área de floresta com maior velocidade entre 2000 e 2005? (Escolha a melhor resposta.)

A resposta certa é "Brasil".

Emissões por desmatamento e mudanças no uso do solo em 2000

Data from Food and Agriculture Organization of the United Nations,
State of the World's Forests 2009 (Annex 4)

Entre 2000 e 2005, o Brasil liderou os índices mundiais em perda de floresta. Curiosamente, a Espanha (e vários outros países não mostrados) de fato aumentou suas áreas de floresta. Globalmente, uma área de floresta tropical equivalente a mais que o dobro da Venezuela é derrubada todo ano. O desmatamento na bacia amazônica é responsável por mais da metade disso. Até 2001, um total de 837.000 quilômetros quadrados de floresta foram perdidos.

No Brasil, quase 20% de floresta tropical – uma área do tamanho da França – foi derrubada e convertida para outros usos nos últimos 30 anos. As margens sul e leste da floresta sofreram mais devido a expansão de pastos de plantações de soja na área.

Desmatamento na Amazônia, 1988-2009

Algumas vezes a floresta não é diretamente derrubada, mas degradada por falta de técnica na extração madeireira. Aproximadamente 1/3 da Amazônia já foi degradada dessa maneira, o que responde por aproximadamente 25% das emissões por desmatamento na Amazônia brasileira. O efeito conjunto do desmatamento, degradação e corte e queima para agricultura aumenta em muito o risco de fogo em milhões de hectares de floresta virgem.

Equipamento madeireiro

A floresta degradada libera carbono lentamente conforme os materiais orgânicos se decompõem, enquanto o fogo destrói tudo de uma vez. Em ambos os casos, a floresta ao redor pode ser enfraquecida por mais incidência de luz, calor e seca.

Outros fatores ainda impulsionam a liberação de carbono depois da derrubada da floresta. Aproximadamente 25-30% do carbono no solo recém desmatado e cultivado retorna ao ar quando matérias das árvores mortas e micróbios do solo são expostos ao ar. A exposição ao ar permite que esses materiais se decomponham mais rapidamente. O pastejo e cultivo do solo recém desmatado levam a liberação de gases de efeito estufa. O uso de fertilizantes ricos em nitrogênio faz com que o solo libere óxido nítrico, outro gás de efeito estufa. Animais de criação, adubo, e plantações de arroz liberam metano que, como vimos, é um gás de efeito estufa 21 vezes mais poderoso que o CO2.

Terras cultivadas no Brasil

Incêndios e tempo

O desmatamento pode também afetar o clima de formas não relacionadas a liberação de gases de efeito estufa. As florestas liberam a água que absorvem do solo através de suas folhas, o que faz com que atuem como gigantes umidificadores do nosso planeta. Essa liberação de vapor d'água também move o calor da superfície para a atmosfera, onde a água condensa. Esse efeito diminui as temperaturas da superfície. Derrubar florestas é como tirar da tomada esse ar-condicionado, o que não só esquenta o clima como também diminui o vapor de'água que poderia virar chuva.

Imagem de satélite do rio Amazonas, no Brasil.
Nuvens se formam sobre a densa copa das árvores,
mas são esparsas sobre as áreas mais secas ao longo do rio.

Imagem de satélite do rio Amazonas, no Brasil. Nuvens se formam sobre a densa copa das árvores, mas são esparsas sobre as áreas mais secas ao longo do rio.

Como resultado, a derrubada de mais de 30% da floresta seria responsável por uma Amazônia permanentemente mais seca, provocando um ciclo que converte mais e mais floresta em savana. Conforme mais árvores morrem, todo o resto seca mais rápido, o que mata mais árvores e assim por diante.

Ciclo do aumento da degradação da floresta e diminuição da incidência de chuvas

Um estudo recente da Universidade Federal de Viçosa, Brasil, sugere que se apenas mais 3% da floresta na região do Mato Grosso fosse derrubada, a área poderia se tornar uma permanente savana.

Desmatamento no Mato Grosso, Brasil

Essas mudanças também afetam futuros padrões climáticos. Alguns estudos indicam que o desmatamento em larga escala na Amazônia pode aumentar a temperatura global e reduzir significantemente a incidência de chuvas em lugares tão distantes como o México e os EUA.

O que você acha?

As duas imagens de satélite abaixo mostram focos de calor nos anos de 2005 (esquerda) e 2006 (direita). Qual será a razão da maior concentração em 2005 comparada a 2006? (Choose all that apply.)

Nuvens de fumaça em setembro de 2005 Nuvens de fumaça em setembro de 2006

 

As melhores respostas provavelmente são a) e d).

É difícil dizer precisamente o que afeta o número de queimadas num ano específico. Sabemos que o ano de 2005 teve uma seca muito intensa, que provavelmente foi um enorme fator para as queimadas daquele ano. A queda em 2006 foi, provavelmente, devido a maior rigidez de leis florestais, para que a incidência de fogo não se repetisse como no ano anterior.

Uma situação parecida aconteceu entre 2007 e 2008, mas cientistas não têm certeza do que causou a queda nesses anos, já que o tempo não parece ter sido um fator. Talvez as condições de mercado de madeira e agricultura ou ações reguladoras tenham sido um fator.

Nuvens de fumaça em setembro de 2007 Nuvens de fumaça em setembro de 2008

Outras consequências

Em 2004, pelo menos 13 pessoas no estado do Pará morreram de raiva transmitida pela mordida do morcego vampiro enquanto dormiam. Em 2005, 23 pessoas morreram e mais de 1.300 foram mordidas no Maranhão. Apesar de essas mortes não parecerem ligadas às mudanças climáticas, elas podem ser. E o desmatamento é uma das possíveis causas.

Na época, alguns cientistas atribuíram as mortes aos morcegos deslocados de seus lares, florestas que foram derrubadas, e às colônias de morcegos super populosas por estarem se alimentando de gado mantido pelo homem.

Morcego vampiro

Outro estudo na Amazônia peruano descobriu que mosquitos transmissões de malária picam 100 vezes mais em áreas desmatadas do que em florestas intactas. Mas raiva e malária são os únicos efeitos do desmatamento na saúde.

Floresta, terreno desmatado e uma plantação na Amazônia boliviana

Fumaças de florestas em chamas causam doenças respiratórias nas pessoas próximas ao local da queimada. Em 1997, as visitas ao médico por problemas respiratórios aumentaram 20 vezes durante os incêndios de Alta Floresta. Apenas em 1998, o governo brasileiro gastou US$11 milhões com o tratamento de problemas respiratórios na Amazônia.

Fumaça na floresta amazônica

Se, como os atuais estudos científicos sugerem, secas se tornarem mais comuns na Amazônia, comunidades tradicionais e rurais e povos indígenas podem ter de lidar com a escassez e a insalubridade de água, a falta de alimentos e outras dificuldades ligadas às mudanças climáticas.

Uma casa e um varal numa área seca

Sequestro de carbono e REDD

Já deve estar claro que conservar florestas é um jeito rápido de lutar contra mudanças climáticas e proteger a saúde humana. Usar árvores para armazenar carbono é uma forma de “sequestro de carbono,” que é qualquer processo que tira carbono do ar e o fixa na vegetação durante um período de tempo.

Entretanto, conservar a floresta não é uma solução permanente, pois até as florestas protegidas atingem um ponto de saturação onde serão incapazes de absorver mais carbono.

Uma floresta nublada no Peru

Existem passos importantes que devem ser tomados enquanto o mundo tenta desenvolver políticas ambientais de longo prazo e diminuir sua dependência de combustíveis fósseis. Os primeiros passos na redução de emissão de carbono são: - impedir que o carbono já armazenado nas florestas tropicais seja liberado de volta ao ar, e - preservar as habilidades de absorção de carbono das árvores.

Se nada for feito, as florestas continuarão sendo derrubadas em velocidades alarmantes. Cientistas estimam que, assim, até 2030, 55% da Amazônia brasileira terá sido derrubada, explorada ou danificada por seca ou fogo. Isso não apenas liberaria 15-25 bilhões de toneladas de carbono no ar, mas também acabaria com a capacidade das florestas de absorver carbono, esfriar e umidificar o ar.

Aqui você vê dois possíveis futuros para a Amazônia, um otimista e um pessimista.

Desmatamento em 2050 em cenários otimistas e pessimistas

No cenário pessimista, que parte do princípio de que nenhuma mudança será feita, 40% das florestas estariam desmatadas até 2050, liberando 32 bilhões de toneladas de carbono. No cenário otimista, que conta com mais áreas protegidas, manutenção de áreas indígenas, governança mais forte e criação de políticas de proteção das florestas, 25% das florestas seriam desmatadas, o que liberaria 17 bilhões de toneladas de carbono. Isso continua não sendo bom, mas quanto mais desmatamento pudermos evitar, melhor.

Imagem de satélite do desmatamento no Mato Grosso, Brasil

Imagem de satélite do desmatamento no Mato Grosso, 17 junho de 2002

Nos últimos anos, o Brasil deu importantes passos para contornar o desmatamento. Por exemplo, o governo tem tentado monitorar e controlar o desmatamento ilegal.

Imagem de satélite do desmatamento no Mato Grosso, 28 junho de 2006

O Instituto Nacional de Pesquisa Espacial (INPE) desenvolveu um sistema chamado DETER (Sistema de Detecção de Desmatamentos em Tempo Real) que usa imagens de satélite para que o governo e sociedade vejam exatamente onde e quando as florestas são queimadas ou derrubadas, ajudando imensamente o monitoramento.

Imagem de satélite do desmatamento no Mato Grosso, Brasil, 2002 y 2006

Entre 2005 e 2006, o governo prendeu mais de 500 desmatadores ilegais e, como resultado dessa e outras ações, o governo conseguiu reduzir pela metade os índices de desmatamento em três anos.

E o governo delimitou 24 milhões de hectares de área protegida na fronteira de expansão da agricultura, aproximadamente 10% da área total da floresta. De acordo com um documento de 2008, do Serviço Florestal Brasileiro, essas ações ajudaram o Brasil a evitar a emissão de 200 milhões de toneladas de carbono desde 2004.

Áreas protegidas no Brasil

Esse sucesso não passou despercebido e foi o motivo que levou a Convenção Quadro das Nações Unidas Sobre Alterações Climáticas (UNFCCC) a destacar o Brasil, assim como outros países na África, Ásia, e América Latina, por seus êxitos com programas de Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal, conhecido como REDD.

O conceito desse mecanismo é que países desenvolvidos signatários da  Convenção de Clima (conhecidos como países do Anexo I) ajudariam a compensar os países detentores de florestas tropicais, como Brasil e Indonésia,  pela redução no desmatamento e promoção de práticas de gerenciamento sustentável da floresta. Apesar de não ser arato inicialmente, autoridades estimam que os custos diminuam no decorrer do tempo.

Rio Renato, Brasil

O mecanismo de REDD, no Brasil, deve incluir compensações ou incentivos positivos para agricultores familiares, produtores rurais, povos indígenas, comunidades tradicionais e esferas de governo pelo serviço que prestam pela a humanidade mantendo a floresta em pé ou deixando de desmatá-la. Esse mecanismo contempla não só a redução de emissões provenientes do desmatamento e da degradação, mas também o papel da conservação, do manejo sustentável das florestas e do aumento dos estoques de carbono das florestas nos países tropicais.

Índios brasileiros

Além de reduzir emissões de carbono oriundas de desmatamento, estudos mostram que tal mecanismo também ajudaria a amenizar a pobreza e proteger cidadãos, além de promover a conservação da biodiversidade. No Brasil, o recurso gerado poderia dobrar a renda de 200.000 famílias de produtores rurais que vivem em áreas de floresta; reduzindo doenças respiratórias, mortes e danos às florestas e plantações decorrentes de queimadas; e evitando a redução na incidência de chuvas, importante para plantações  e hidroelétricas. Em conclusão, REDD pode ajudar a evitar a perda de serviços ambientais múltiplos e de muitas espécies importantes e insubstituíveis que fazem da Amazônia um tesouro único.

Acordos internacionais

UNFCC—Convenção sobre Mudanças Climáticas

Vozes do Brasil:
     "Eu não sei o que são as mudanças climáticas, mas eu sei dizer o que a gente já sofre de diferença lá. Lá nós sofremos uma diferença muito grande, uma mudança no jeito da natureza, que vocês chamam isso mudanças climáticas.

Eu entendo que a proposta do mecanismo REDD é uma proposta bastante interessante para nós. O grande problema é de que jeito nós podemos afinar ela, adaptar ela, a um jeito que faça bem para as populações tradicionais da floresta, que não faça mal como outros programas que já tiveram, não de mudanças climáticas, mas outros fundos, outras coisas, que vieram como uma solução, mas na verdade não chegou até as comunidades.

A proposta para nós é interessante, ela vai na linha, ela é um meio concreto, assim se transforme em política, de redução de desmatamento."

Manoel Silva da Cunha, Presidente do Conselho Nacional dos Seringueiros (CNS)

Manoel Silva da Cunha, Presidente do Conselho Nacional dos Seringueiros (CNS)

Atualmente cientistas concordam que apenas mudanças globais drásticas irão desacelerar as mudanças climáticas. Essa não é uma nova conclusão. Em 1992, durante a Conferência Internacional sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento em no Rio de Janeiro, o texto da Convenção-Quadro das Nações unidas sobre Mudança do clima, também conhecida como UNFCCC, foi aberto para assinatura. A convenção foi assinada e ratificada por mais de 192 países. Essa convenção havia sido sugerida pelo Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima, mais conhecido pela sigla em inglês IPCC, a autoridade mundial nas questões de mudanças climáticas, criado em 1988 pela Organização Mundial de Meteorologia (WMO) e pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA).

Prédio das Nações Unidas, em Nova York

O objetivo da UNFCCC é unir países para definir estratégias técnicas e políticas para combater o aquecimento global. Nesse tratado, a comunidade internacional:

  • Reconheceu as mudanças climáticas como um problema ambiental real e global;
  • Admitiu a importância do papel das atividades humanas nas mudanças climáticas e a necessidade de cooperação internacional;
  • Definiu que estabilizar as concentrações de gases de efeito estufa é um objetivo crucial.

Sob o tratado da Convenção, que se tornou efetivo em Março de 1994, os governos concordaram em:

  • Coletar e compartilhar informação sobre emissão de gases de efeito estufa, políticas nacionais e melhores práticas;
  • Lançar estratégias nacionais para a redução de emissões de gases de efeito estufa;
  • Dar apoio financeiro e tecnológico para países em desenvolvimento;
  • Cooperar na preparação para adaptação aos impactos das mudanças climáticas.

O principal objetivo da Convenção é estabilizar gases de efeito estufa na atmosfera a fim de evitar mudanças climáticas drásticas, permitir que animais e plantas se adaptem naturalmente aos níveis mais altos de CO2, garantir produção adequada de alimentos e preservar um desenvolvimento econômico sustentável.

A UNFCCC atinge seus objetivos através de seus encontros anuais, chamados de Conferência da Partes (COP) nos quais as nações participantes discutem questões sobre as mudanças climáticas globais. A primeira COP foi realizada em 1995 em Berlim, na Alemanha, onde as nações membros começaram a negociar objetivos e prazos para países desenvolvidos reduzirem suas emissões de gases de efeito estufa.

Lugares delegados (IPCC)

A COP3, o terceiro encontro, foi realizado em 1997 em Quioto, Japão, onde o conhecido Protocolo de Quioto foi adotado. Em 2004, as regras para implementação do Protocolo de Quioto foram aprovadas durante a COP10. Durante a COP 13 em 2007, as florestas foram mencionadas como parte da solução para as mudanças climáticas pela primeira vez, e o Plano de Ação de Bali foi desenhado.

Protocolo de Quioto

O tratado da UNFCCC não impôs limites obrigatórios de emissão de gases de efeito estufa. Ao invés disso, foram feitos protocolos para definir tais restrições. O primeiro foi o Protocolo de Quioto.

Um jornal com a manchete Conferência adota o Protocolo de Quioto

Reconhecendo que países desenvolvidos são os principais responsáveis pelos altos níveis atuais de emissões de gases de efeito estufa na atmosfera, o Protocolo de Quioto impôs metas para 37 países industrializados e a União Européia, os chamados países do Anexo 1.

Sob o Protocolo de Quioto, os países do Anexo I se comprometem a reduzir suas emissões nacionais em uma média de 5% dos níveis de 1990 entre 2008-2012 (chamado de “primeiro período de compromisso de Quioto”). Sob o Protocolo de Quioto, países em desenvolvimento, ou seja, não pertencentes ao Anexo I, não têm compromisso de reduzir suas emissões. O Brasil está nesse grupo, assim como a China, Índia e Indonésia.

O que você acha?

O protocolo de Quioto se tornou efetivo em 16 de fevereiro de 2005, e até 2009, foi ratificado por 184 países. Qual país(es) influente(s) NÃO ratificou o Protocolo até 2009? (Choose all that apply.)

A resposta certa é c).

Até 2009, os Estados Unidos foram os únicos desenvolvidos a não ratificar o Protocolo de Quioto. O Senado dos Estados Unidos se recusou a assinar o Protocolo porque o mesmo não incluía reduções obrigatórias de emissões por países em desenvolvimento como a China, que atualmente é o maior emissor de gases de efeito estufa do planeta.

Mapa dos países que assinaram e/ou ratificaram o Protocolo de Quioto.

Redução de emissões

Com compromissos dentro do Protocolo de Quioto para limitar ou reduzir emissões, os países precisam atingir suas metas primeiramente através de políticas públicas e regulamentações que limitem as emissões diretamente, ou que criem incentivos para melhor eficiência dos setores energéticos, industrial e de transporte, e que promovam maior uso de fontes renováveis de energia.

O Protocolo de Quioto também introduziu três mecanismos com base no mercado para ajudar os países a reduzirem emissões:

  1. Comércio de emissões
  2. Implementação conjunta
  3. Mecanismo de Desenvolvimento Limpo

Atualmente o carbono é rastreado e vendido como qualquer outra mercadoria. Isso é conhecido como “mercado de carbono”. Já que o dióxido de carbono é o principal gás de efeito estufa, simplesmente falamos “ ‘’comércio de emissões de carbono”, e outros gases de efeito estufa, como o metano, por exemplo, são expressos em sua equivalência em dióxido de carbono (CO2eq).

Duas pessoas trocando um pedaço de papel que diz emissões

O comércio de emissões permite que países desenvolvidos que tenham diminuído suas emissões de gases de efeito estufa para níveis abaixo de suas metas, comercializem esse excesso com outro País do Anexo I, ou seja, os países vendem seus créditos para aqueles que não atingiram suas metas.

O mecanismo de implementação conjunta permite que um país do Anexo I invista num projeto de redução de emissões em outro país do Anexo I, onde o custo para redução seja mais baixo. Por exemplo, se o custo de redução de emissões no Japão for muito alto, o Japão poderia investir num projeto na França. Nesse exemplo, a França se beneficiaria do investimento e tecnologia externos e o Japão teria uma possibilidade maior de cumprir suas metas.

industry clip art

O Mecanismo de Desenvolvimento Limpo, também conhecido como MDL, é o único que permite a participação de países em desenvolvimento. Nesse mecanismo, países desenvolvidos com compromissos de redução de emissões podem investir em projetos em países em desenvolvimento – aqueles que não têm compromissos de reduções sob o protocolo de Quioto – para gerar créditos de carbono de forma mais barata. Esses projetos resultam em créditos que, certificados, podem ser comercializados e somados para o alcance das metas de Quioto.

Turbina de vento e painéis solares

Exemplos de projetos de MDL podem incluir:

  • Levar eletricidade às áreas rurais usando painéis solares e turbinas de vento.
  • Trocar combustíveis fósseis por biocombustível.
  • Dispor corretamente lixo urbano e rural para evitar emissões de metano.
  • Sequestrar carbono plantando árvores onde florestas foram derrubadas (reflorestamento) ou em terras onde não havia florestas (aflorestamento).

O MDL registrou mais de 1.838 projetos, e esse é um número que só cresce.

Para países em desenvolvimento, projetos de MDL fornecem desenvolvimento sustentável e redução de emissões, enquanto a países industrializados dão alguma flexibilidade em como atingir suas metas de redução de emissão.

Como os países têm participado do MDL?

Até setembro de 2009, 5.340 projetos estavam em alguma fase do ciclo de projeto do MDL (validação, aprovação e registro). A China tem a maioria 37% do total, a Índia vem em segundo 27%, seguida pelo Brasil com 8% do total. Juntos, eles representam 72% dos projetos existentes.

Participação no Total de Atividades de Projeto no Âmbito do MDL no mundo

Em termos de emissões reduzidas por esses projetos, o Brasil contribuiu com 6% do total global.

Reduções de Emissões para o primeiro período de Obtenção de Crédito

Apesar de projetos de MDL envolverem aflorestamento e reflorestamento, projetos que visam evitar emissões prevenindo o desmatamento e incêndios ainda não fazem parte do mecanismo. Por o Brasil ser um dos 5 maiores emissores de gases de efeito estufa, e por mais da metade de suas emissões serem provenientes do desmatamento, tem-se falado muito sobre a criação de programas de redução de emissões por desmatamento usando um mecanismo como o MDL em países em desenvolvimento.

Essa idéia tem uma história que vem desde 2003, quando um grupo de pesquisadores liderados pelo IPAM - Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia – introduziu uma proposta chamada de “Redução compensada de desmatamento” na COP 9, em Milão. A proposta sugeria que países desenvolvidos que, voluntariamente, reduzissem emissões por desmatamento receberiam uma compensação financeira internacional equivalente às emissões evitadas, de acordo com os preços do mercado de carbono.

Equipamento madeireiro na floresta

Depois disso, muitas outras propostas foram feitas, inspiradas pela proposta apresentada em Milão. Na COP 11, em 2005, um bloco de nações em desenvolvimento, liderado pela Papua Nova Guiné e Costa Rica, propôs compensar países com florestas tropicais pela redução do desmatamento.

Equipamento madeireiro e toras empilhadas

Em 2007, na COP 13 em Bali, Indonésia, evitar emissões por desmatamento tropical e o papel das florestas em pé foi uma questão central na redução do aquecimento global. Ao final do encontro, a importância das florestas para o clima foi oficialmente reconhecida. Os países membros aprovaram o Mapa do Caminho de Bali, que estabelece um calendário de dois anos de negociações para construir um arcabouço legal de um tratado para o período pós-2012, ano em que finda o primeiro período do compromisso do Protocolo de Quioto.

Nesse período de dois anos se intensificariam as medidas nacionais/internacionais de mitigação da mudança do clima. Uma das medidas de mitigação em discussão é sobre um mecanismo de políticas e incentivos positivos com relação a questões referentes à redução de emissões provenientes do desmatamento e da degradação florestal nos países em desenvolvimento; e o papel da conservação, do manejo sustentável das florestas e do aumento dos estoques de carbono das florestas nos países em desenvolvimento. Esse mecanismo é conhecido também pela sigla REDD (Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação).

Silhuetas de árvores tropicais no Parque Nacional de Itatiaia, Brasil

As nações membro terão que decidir como tornar REDD realidade. Os detalhes metodológicos do mecanismo e o e o tipo de financiamento são elementos decisivos para o sucesso do REDD em países em desenvolvimento e, em conseqüência, a conservação de florestas tropicais e compensações para aqueles que a mantém em pé e que auxiliam nos esforços de redução de desmatamento e degradação.

Nos próximos anos haverá muitas mudanças em como as nações do mundo se pronunciam sobre o problema das mudanças climáticas e esse importante mecanismo. REDD, com já visto, pode ser essencial para a manutenção das florestas tropicas, mas cabe a cada um de nós, como governo ou cidadão, as pequenas e grandes atitudes que vão conter o clima e proteger a humanidade. Para atualizações e mais informações favor visitar e guardar em seus favoritos nosso website: http://www.ipam.org.br/

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